1 de março de 2010

Olhos que não vêem coração que não sente


Basicamente é mais uma história, como qualquer outra, onde os valores lealdade e honestidade são completamente esquecidos. Tudo começou por altura de Julho do ano passado quando fui esperar o Pedro ao aeroporto, que chegava de mais um ano de estudos em Itália onde tira Ciências Sociais. Pedro deixou tudo para trás, nesta sua estadia em Itália, incluindo Carla com quem tem um relacionamento de 4 anos, que ficou em Portugal com o coração cheio de saudade. Nós, amigos, tentávamos de tudo para distrai-la mas era tarefa difícil devido as circunstâncias. Na chegada dele ao aeroporto e após a habitual troca de palavras e abraços, perguntei-lhe, em jeito de brincadeira, mas com alguma esperança:

- Não me trazes uma italiana, para mim, na mala?
- Só agora é que pedes? – respondeu-me prontamente bem-disposto, prosseguindo de seguida. – Olha que as italianas são mesmo fantásticas, nem de conto.
- Contar o quê? – perguntei já a pensar no pior.
- Oh pá!! Passei bons momentos por lá! – respondendo-me de forma intimista. – Sabes, confirmei muitas coisas do que se fala sobre as italianas, uma das quais é que são mesmo feras na cama.
- Ah? Nem acredito no que me estás a dizer... – retorqui já irritado. – Onde fica a Carla no meio dessas aventuras todas?
- Respira fundo, estás nervoso, olhos que não vêem coração que não sente. E não ouses falar nisto a ninguém. – respondeu-me mudando de imediato de assunto.

Como devem compreender aquelas palavras não me caíram nada bem, durante bastante tempo, elas moeram-me por dentro numa dúvida, pois a revelação daquela conversa colocaria o relacionamento de Pedro e Carla em risco. A grande razão pela qual nada contei à Carla é simples, sempre que estava com o casal encontrava-os bastante unidos, apaixonados e cúmplices. Mesmo sendo evidente, pelo menos para mim, que a Carla era o sustento daquela relação, via-se nela uma mulher apaixonada, derretida e que idolatrava o Pedro. Sinceramente, não tive coragem de a encarar e lhe contar aquela conversa, também não sabia até que ponto as palavras de Pedro não seriam uma forma de se gabar, muito comum entre nós homens. Certo dia, em conversa com Filipa, antiga amiga muito próxima de Carla, perguntei o que acha da relação deles, ela respondeu-me de forma enigmática e surpreendente:

- Ela ama-o de verdade, mas ele é um cabrãozeco. Sinceramente acho que ele anda a engana-la, já tentei falar com ela sobre isso mas ela virou-se contra mim. A Carla é capaz de pôr não só as mãos como o corpo no fogo por ele.
- Não estás a exagerar? Tens algum fundamento para afirmar uma coisa dessas? – perguntei eu num cinismo pouco habitual em mim, tentando saber mais.
- Por amor de Deus! Ele não passa dum gabarola. A sorte dele é que caiu nas graças das amigas de faculdade dela, e que por muito que fale, não sou ouvida. Já viste bem o comportamento dele? Acorda... – respondeu-me de forma tão rápida que lhe tive de pedir para repetir, ficando a conversa por ali.

Como inocente que sou, achei que Filipa estava de má-fé, continuando na minha de nada contar. Tudo mudou no passado sábado, após entrar no Bazaar Club, onde me deparei com Pedro aos beijos a uma fula qualquer, ao princípio nem quis acreditar que era ele, pensando que o vinho tinto do jantar já fazia efeito, bom por sinal, mas não, era mesmo ele. Fiz de tudo para que me visse, até que ao ver-me tentou deslocalizar-se pensando que ainda não o tinha mirado. Num acto de coragem e incentivado por uma amiga, fui de encontro a ele, quando me viu ficou com uma cara de feriado mal passado, mas com cinismo disse-me:

- Então maior, por aqui?
- Não me venhas com cinismos. – respondi-lhe, e puxando para o lado de forma a amiga dele não ouvir, continuei. – Não tens vergonha? Oh pá! Sê homem uma vez na vida, deixa de ser falso para uma pessoa que te ama demasiado para tu mereceres. É pena não ter sido a Carla a entrar por aquela porta. Nem me dirijas a palavra, acredita que ela vai saber quem encontrei aqui hoje.
- Ouve lá, deixa-te disso, ela é gramada em mim. Já me viste alguma vez a interpretar o papel de vítima? – retorquiu ele num ar gozão e afrontador - Só vais ter problemas com isso, já te disse uma vez e volto a repetir. Olhos que não vêem coração que não sente.

Para não me chatear virem-lhe costas e prossegui com a minha noite. Nunca mais o vi, não sei se foi embora, mas também é coisa que não me interessava na altura. Esta semana, o mais tardar, irei contar tudo à Carla, mesmo que isso me custe uma amiga, mas ficarei com a consciência mais leve e com a sensação de dever cumprido, possivelmente o mais certo é o Pedro se fazer de vítima e continuar impune, mas tanta vez o cântaro vai a fonte que algum dia irá partir. Sei que não fui o melhor amigo para a Carla, só espero que me perdoe não ter contado antes.

2 comentários:

Cecília Fernandes Vigário disse...

:S Situações do "caralhinho" que nos põem em confronto! 2 amigos, 2 vidas e uma verdade que pode descarrilar com tudo... :S acho que já tive a minha dose dessas encrencas. Dificil é atinar com alguem que pense como tu... que tenha principios! :S *

Enfim... Mas vais concerteza ter a melhor das acções =) *

Mariazinha disse...

Então e contaste?